segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

A primeira semana da nostálgica “Verão 90”


Estreou na terça-feira (29), a nova novela da faixa das sete da Globo, “Verão 90”, de Izabel de Oliveira (autora de “Cheias de Charme” e “Geração Brasil”) e Paula Amaral (que escreveu as temporadas 2005, 2006 e 2007 de “Malhação”). O folhetim, dirigido por Jorge Fernando, estreou com a missão de estancar a constante queda de audiência do horário após “Deus Salve o Rei” e “O Tempo Não Para” – esta última fechou com 24 pontos no IBOPE, o menor índice do horário desde 2015, quando “I Love Paraisópolis” foi ao ar. Alto astral e colorida, “Verão 90” trouxe a ousada premissa de retratar a vida nos anos 90, com um olhar contemporâneo.

A trama dá seu start na Araruama dos anos 80, com uma fotografia clara e cheia de cores. O enredo se mostrou eficaz nos primeiros minutos, que contrasta as mães Lidiane, papel de Cláudia Raia, e Janaína (Dira Paes). Uma vê tudo que ajudou a construir para sua filha ser ameaçado e a outra tem que lidar com o desvio de caráter de seu filho mais velho. 

A primeira fase da novela apostou em dramas simples, que condiz com o tom mais infantilizado. As crianças fizeram um bom trabalho, mas o destaque fica para a pequena Melissa Nóbrega, que interpreta Manuzita, papel de Isabelle Drummond posteriormente. A atriz se mostrou confortável na frente das câmeras e conseguiu impressionar com sua naturalidade. Os interpretes de João e JerônimoJoão Bravo e Diogo Caruso, passaram uma imagem mais dura e engessada comparados a menina, mas fizeram um bom trabalho.

Apesar do excesso de expositividade, característica do horário, o roteiro se mostrou consistente até certo ponto da primeira fase. Já no final do primeiro bloco, as coisas foram para um caminho um tanto preguiçoso, quando as autoras desenvolveram conflitos rápidos para não atrapalhar o objetivo de João e Jerônimo: entrar no concurso da Patotinha Mágica. O problema foi a execução, que deixou furos bastante incômodos. Izabel de Oliveira Paula Amaral recorreram a todos os caminhos mais fáceis possíveis, ainda que não parecessem críveis ou lógicos, que mesmo para uma novela com proposta de ser absurda, pareceria pura preguiça.

O segundo bloco é responsável pela mudança de fase do folhetim. Após o cancelamento do “Patotinha Mágica”, “Verão 90” avança, de fato, para os anos 90, quando Manuela (Isabelle Drummond), agora uma jovem adulta, reencontra João (Rafael Vitti), seu amor de infância. Sem nenhum desenvolvimento prévio, o casal fica junto já no segundo capítulo, deixando a experiência de acompanhá-los morna e previsível. Que a autora tenha cartas na manga e saiba conduzir a trama sem se segurar unicamente nesse casal sem química, como Mario Teixeira tentou fazer em “O Tempo Não Para. A falta de desenvolvimento de casais protagonistas vem sendo recorrente nas novelas da Globo e é um fator responsável pela falta de empatia do público pelos romances retratados. As pessoas precisam de profundidade e coerência.

Isabelle Drummond foi uma infeliz surpresa em Verão 90, que após a naturalidade dada ao papel por Melissa Nóbrega, trouxe uma interpretação constrangedoramente alheia, diferente de seus outros trabalhos. Manuzita agora parece murcha e constantemente entediada, mesmo aos braços de seu grande amor, João, que só ajuda a fazer esse, um dos casais mais sem graça das últimas tramas do horário. O ponto alto é a trilha sonora, que terá cenas de Manuzita e João embaladas pelo sucesso dos anos 90 “Your Love” do The Outfield.

A trilha sonora, inclusive, vem sendo essencial para dar o ar nostálgico que a trama se propôs a trazer, com clássicos como Partido Alto de Cássia EllerRhythm Of The Night de CoronaStep By Step do New Kids On The Block, que também esteve presente em “A Lei Do Amor, entre outros sucessos. 

Apesar dos problemas, as referências aos anos 80 e 90, da abertura a cenas de novelas antigas, programas de auditórios, passando pela trilha sonora, foram os grandes acertos da  semana de estreia de “Verão 90”. A nostalgia foi o ponto forte da trama, que também leva ponto por conseguir trazer um pouco do clima de outros sucessos da faixa. Não esquecendo os furos, o casal sem química e a trama relativamente fraca, a novela faz bom uso da atmosfera saudosista que tem nas mãos.